A história de sucesso de um casal da terceira idade que foi aluno EJA e chegou à faculdade; um exemplo de vida a se seguido por muitos jovens que buscam dar continuidade aos estudos.
Texto e Fotos: Janaína Farias
Maria Ferreira dos Santos,
62 anos e Maurício Ferreira dos Santos, 66 anos, ex- alunos de EJA, com sua bisneta, Eduarda Roberta Ferreira, também aluna da escola. |
O
que parecia impossível para um casal de mais de 60 anos de idade se
tornou realidade. O sonho de entrar numa faculdade não só resgatou
sua autoestima como renovou todos seus objetivos, temporariamente
adormecido, ou melhor, adiado. O futuro então bateu na porta e o
sonho estava começando a se realizar: Maria Ferreira dos Santos de
62 anos e Maurício Ferreira dos Santos de 66 anos, ex- alunos da
Educação de Jovens e Adultos (EJA) da Escola Municipal Nise da
Silveira, situada no Conjunto Antares, - depois de passar por várias
dificuldades e desafios, e enfrentar inúmeras barreiras, pais de 3
filhos, 7 netos e 2 bisnetos, hoje universitários- frequentadores do
curso Agente Social, da Faculdade da Cidade de Maceió
(Facima)-conseguiram superar as dificuldades sociais como o trabalho
e a falta de condições financeira que levam milhares de jovens a
abandonar os estudos no tempo regular todos os anos.
Do
analfabetismo a um curso superior
A
força de vontade do casal extrapolou a sala de aula- aprender a ler
e escrever, o que já estavam acima da expectativa - quiçá
conseguir cursar um curso superior, refazer os planos, ter uma
profissão, conseguir um trabalho. Entretanto nada foi fácil, por
muitas vezes pensaram até em desistir. Mesmo sem condições de
assistirem as aulas por conta de uma roupa ou até mesmo de um
calçado não abalou o desejo de continuar. “Pensei parar na 4ª
série, não tínhamos condições de ir à escola e ainda tínhamos
que enfrentar outra situação, pois a escola que estudávamos não
dava continuidade a EJA, mas me veio uma força interior e o apoio
dos amigos, e da direção, então continuei”, justifica Maria
Ferreira.
Como
na época, a escola Nise da Silveira não oferecia a II fase da EJA o
casal tive que procurar outra escola, onde pudesse continuar o
fundamental. Com isso bateu a insegurança de ter que começar tudo
de novo, como conta Maurício Ferreira. “Sentia medo de chegar à
outra escola e principalmente de não se adaptar com a turma. Até
por que fomos parar numa turma de jovens e a adaptação era
imprescindível para continuar os estudos”.
O
exemplo
A
conclusão do ensino fundamental foi em outra escola. Com essa
mudança o senhor Maurício Ferreira e a dona de casa Maria Ferreira
por uma surpresa do destino passou a frequentar a mesma sala de aula
que seus netos, quando se deparou com a desmotivação e a falta de
estímulo mais uma vez, “era uma fase muito difícil, com muita
dificuldade. Pensávamos em parar, assim como meus netos, mas não
podíamos demonstrar fraqueza e nem tampouco desistir dos nossos
objetivos”, frisa Maurício.
Seguros do que queriam e aonde chegar,
incentivaram seus netos a não parar, anos se passaram e juntos com
eles concluíram o fundamental e o médio. “Se eu tivesse desistido
tinha me arrependido. Pelo que sei hoje e pelo conhecimento que tenho
não penso em parar nunca mais. Sinto-me muito feliz, não tem coisa
melhor do que está numa sala de aula. Fomos exemplos também para
nossos netos” desabafa o universitário.
Desenhando
um novo futuro
Com
várias lições e uma vasta experiência de vida o estudante do
curso de agente social, recomenda as pessoas que pararam por um
motivo ou outro, procurar retornar os estudos, considerando ele o que
há de melhor na vida para crescer. Com planos de trabalhar na área
e ser um profissional aos 66 anos de idade, Maurício Ferreira quer
mais. Como educador pensa em ajudar ao próximo e levar conhecimento
para as pessoas. Para ele, o estudo da EJA, abre os olhos dos alunos
e o incentiva a enxergar cada vez mais longe.
Mesmo sendo o único
homem da turma da faculdade, Maurício Ferreira não vê problema,
não fica tímido nem muito menos envergonhado, segundo ele, isso não
impede diante de tudo que já passou, de realizar seu grande sonho
que é ter um diploma de um curso superior.
Estudante
trabalhador
Segundo
dados do censo 2012 existe em Maceió cerca de 165.992 analfabetos
acima de 15 anos. O aluno EJA é um estudante trabalhador que
precisar de uma atividade remunerada para compor a receita mensal da
família, sendo esse um dos motivos que muitos alunos abandonam o
ensino fundamental antes de concluí-lo. Foi o que aconteceu com a
estudante Nazilde Paulino da Silva que só voltou a estudar esse ano,
com 50 anos de idade. Nazilde não quer ser mais uma a engrossar as
estatísticas dos números de analfabetos na capital. Ela quer ser
servidora pública e sabe que para isso será preciso muita dedicação
aos estudos. “Quero ter um futuro melhor” afirma ela.
Como
Nazilda morava no interior e a distância entre a escola e sua casa a
impedia de frequentar uma sala de aula, o tempo foi passando e a
idade aumentando aos 13 anos começou a trabalhar como empregada
doméstica atividade que ocupa até hoje. Com os filhos criados e um
empurrão da patroa Nazilde finalmente retornou aos estudos. Ela
atualmente está no 2º ano do 1º seguimento e a tendência é
avançar. Nazilde conta que seus três filhos concluíram os estudos
e por conta dessa evolução eles também passaram a cobrar mais
dela. “diferente deles precisei trabalhar, voltei a estudar pela
minha independência. Me incomodava muito quando eu queria pegar um
ônibus e tinha que contar com a ajuda das pessoas. Não queria
incomodar ninguém. Hoje posso dizer que estou conseguindo resgatar
minha cidadania”, destaca.
Relatos do estudante de EJA: desmotivação, distância da
escola, evasão e trabalho
Quase
sempre entre os motivos que levam o estudante a abonadona o estudo
ainda jovem tem um fator social como carro-chefe da história.
Ademário da Silva de 47 anos é um desses exemplos. Devido a
distância de sua casa da escola só começou a estudar aos 9 anos.
Entre idas e vindas não conseguiu prosseguir nos estudos, entrava na
escola e logo saía. Foi assim durante muito tempo, desmotivado não
se identificava com alguns projetos do governo brasileiro na época
como o Movimento Brasileiro de Alfabetização- o conhecido Mobral. O
tempo foi passando e o trabalho foi priorizado. Há mais de 20 anos
sem estudar Ademário finalmente procurou a EJA e fixou um objetivo
“Quero crescer e melhorar minha situação financeira”, assegura
ele. Quando mais novo queria se formar em medicina, agora com outros
projetos de vida quer ser empresário. Com muitos sonhos a realizar,
o retorno aos estudos lhe permite projetar um futuro melhor “quero
trabalhar pra mim mesmo, fazer cursos, chegar ao máximo”, afirma o
estudante.
A
escola contribuindo na valorização da autoestima dos jovens e
adultos
Arlete
Domingues, diretora da escola Nise da Silveira, explica que o aluno
EJA é um estudante que já tem conhecimento adquiridos e experiência
de vida. Ela informa que muitas pessoas procuram a EJA como uma forma
de se alfabetizar, já que no passado por um motivo ou outro não
teve a oportunidade de estudar ou tiveram que abandonar a escola. E
uma das formas de garantir a motivação e a permanência deles,
segundo Arlete, é avaliação que é feita todo início de ano. De
acordo com a diretora essa metodologia abordada beneficia o aluno em
pular etapas, dependendo do nível em que se encontram.
Para ela é
um prazer enorme enquanto educador presenciar o sucesso do aluno
adulto. “os professores da EJA trabalham a valorização da
autoestima dos alunos e quando conseguimos deixar ele capaz, isso é
muito satisfatório, ficamos altamente compensados. É um troféu
quando vemos um sucesso desses como o da Maria Ferreira e Maurício
Ferreira. Saber que a gente foi fundamental para a permanência e a
continuidade deles na escola, não tem explicação, é muito forte”,
comenta Arlete bastante emocionada.
Arlete salienta que a
coordenadora de EJA, Auta Apratto, tem sido fundamental na Educação
de Jovens e Adultos nessa escola. “Alta tem feito um trabalho
importante e significativo na contribuição da alfabetização dos
jovens e adultos. Nessa fase da vida eles precisam ser incentivados e
motivados e isso tem sido primordial para a permanência deles na
sala de aula”, assegura.
A Coordenadora e professora, Auta Apratto, relata sua rica experiência com os alunos de EJA "Trabalhar com alunos de EJA possibilita ao
educador uma rica experiência de vida e cita exemplos como motivação, elevação da
autoestima, busca de aprendizagem significativa voltada para o exercício da
cidadania”, frisa. Segundo ela torna-se
imprescindível o desenvolvimento de aulas e atividades que despertem o
interesse real dos alunos uma vez que já
possuem experiências de vida e precisam ocupar um lugar ou manter-se ativo.
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