domingo, 30 de setembro de 2018

No Cmei Benevides Epaminondas, brincar é base da alfabetização


O filósofo grego Aristóteles considerava a arte uma imitação da realidade. O psicólogo e filósofo suíço Jean Piaget, conhecido pelo trabalho pioneiro no campo da inteligência infantil, afirmava: “brincar é o trabalho da infância”.

Por respeitar esses dois conceitos e reconhecer a necessidade das brincadeiras no cotidiano das crianças como forma de crescimento íntimo e pessoal surgiu, em 2009, no Centro Municipal de Educação Infantil (Cmei) Benevides Epaminondas, o projeto Arte de Brincar. Através dele, os alunos da unidade de ensino localizada no Riacho Doce são estimulados a produzir arte e envolver os familiares nessa produção. O resultado pode ser avaliado com a intensa participação de toda a comunidade, motivando outras unidades escolares a seguir o mesmo caminho.
É o que revela a diretora do Cmei, Joselma de Mesquita Cavalcante. “Pedagogicamente, o brincar é muito forte. Desde quando identificamos a contribuição que a arte e as brincadeiras de criança podem oferecer ao crescimento intelectual da criança, começamos a investir nessa prática. Optamos por incentivar as brincadeiras as mais pueris possíveis”, argumenta Joselma. Depois disso, a etapa seguinte é levar os pequenos a reproduzir as brincadeiras, seja por meio de pinturas, desenhos, esculturas, montagens ou colagens, desde que o aluno se sinta motivado.

Joselma explica que, antes da ideia da exposição artística, a temática de arte era tratada apenas como disciplina do currículo. Talvez de forma inconsciente, a diretora segue a linha de pensamento de Rustrunjee, curador do Museu de Arte na antiga Universidade de Alexandria. O indiano afirmava que “um homem que não produz arte ou não está envolvido com a arte é um ser humano incompleto.”
Artistas
Para ampliar o conceito de arte para os pequenos alunos do Cmei Benevides Epaminondas, a coordenação pedagógica passou a apresentar a produção de artistas como Tarsila do Amaral, Cândido Portinari, Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, entre outros. “Adotamos como prática pedagógica escolher um artista a cada ano e trabalhar toda a sua produção”, diz a coordenadora pedagógica da unidade de ensino da Secretaria Municipal de Educação (Semed), Antonia Juliana. “O primeiro nome com o qual trabalhamos foi o do pintor pernambucano Romero Brito e do escultor também pernambucano Antonio Moura, ainda em 2010”, acrescenta Juliana.
A arte estava presente, como havia planejado a direção escolar, mas ainda incompleta. Era a hora de inserir na produção artística as brincadeiras. A decisão foi trabalhar dois artistas que têm suas produções voltadas para o brincar: Cândido Portinari e Ivan Cruz, especialmente porque o segundo, quando decidiu abandonar a profissão de advogado para seguir a produção artística, inspirou-se em Portinari.
Formação
Para a diretora Joselma de Mesquita Cavalcante, é importante considerar, nesse trabalho, a contribuição das formações oferecidas pela Secretaria Municipal de Educação (Semed). O melhor exemplo, segundo ela, é oferecido pelo programa Palarapracá, frente de formação de profissionais da Educação Infantil realizada pela Avante – Educação e Mobilização Social, em parceria com as secretarias municipais de Educação, que visa contribuir para a melhoria da qualidade do atendimento às crianças na Educação Infantil.
Joselma recorda que antes dessa prática de formação constante, o Cmei recebia profissionais sem maior identificação com a unidade de ensino. Devido ao trabalho do Paralapracá, a professora Priscilla Ferreira de Castro, do Cmei Benevides Epaminondas da Silva, foi escolhida destaque estadual de Alagoas no Prêmio Professores do Brasil 2017, promovido pelo Ministério da Educação (MEC). Também focada na produção com o brincar, a professora desenvolveu o projeto Minha terra tem aromas, cores e sabores, por meio do qual as crianças embarcaram em uma sensível aventura.
O resultado dessa viagem, conduzida pela proposta do eixo de exploração de mundo do Paralapracá, foi a investigação do campo sensorial, essencial para o desenvolvimento cognitivo, além da introdução de novos hábitos alimentares. Priscilla não deixa de destacar que, apesar do reconhecimento dado a ela, o projeto inscrito no MEC foi concebido pela sua colega, a também professora do Cmei Maria Amélia Moreira Torres.

Artigo
A professora Priscilla Ferreira de Castro foi além da produção com os alunos. Ela é autora do artigo Arte de Brincar: Resgatando as Brincadeiras Antigas, publicado na revista eletrônica Saberes Docentes em Ação.
No texto, ela considera que as brincadeiras são a representação da realidade e, por isso, assume um papel fundamental nas etapas de desenvolvimento da criança. “O registro das atividades na educação é um importante auxílio para avaliar as atividades desenvolvidas, promovendo a construção da identidade da criança, o desenvolvimento de competências, oportunidades de crescimento, a movimentação do corpo, a estimulação dos diferentes sentidos, sentimento de segurança, confiança e oportunidades para o contato com o outro”, analisa Priscilla.
Delane Barros / Ascom Semed

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